sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

80 anos do 18 de Janeiro de 1934 evocados na Marinha Grande



O 80º aniversário da revolta operária ocorrida a 18 de janeiro de 1934 vai ser assinalado na Marinha Grande, com um conjunto de iniciativas organizadas pelo Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira (STIV) e pela Confraria da Sopa do Vidreiro, com a colaboração da Câmara Municipal.

O objetivo das atividades é evocar o movimento dos operários vidreiros que, há oitenta anos, encetaram um movimento de insurreição nacional, resultante de um longo processo de luta social e sindical, pela melhoria das condições de vida da classe trabalhadora.

O programa das comemorações é o seguinte:

COMEMORAÇÕES DO 80º ANIVERSÁRIO DO 18 DE JANEIRO DE 1934

11 de janeiro . SÁBADO . 21h30
Clube Recreativo Amieirinhense
Noite de Fados
Fadistas Carmen Dolores, Emanuel Soares, Rosarinho, Tó Pereira, acompanhados por Joaquim Rocha (guitarra) e Mário Maduro (viola)

17 de janeiro . SEXTA
Parque Municipal de Exposições
20h00 . Jantar convívio com animação musical por Carlos Vicente e Amigos
Inscrições nas empresas junto dos delegados sindicais e na sede do STIV, até dia 11 de janeiro.

24h00 . Salva de morteiros e fogo de artifício

18 de janeiro . SÁBADO
09h45 . Romagem aos cemitérios de Casal Galego e Marinha Grande, com deposição de flores nas campas dos prisioneiros por participação no movimento operário do 18 de Janeiro 1934.
Intervenção sindical de homenagem aos falecidos, proferida no Cemitério da Marinha Grande.

11h00 . Praça do Vidreiro
Atuação do grupo de percussão Tocándar
Intervenções sindicais

16h00 . Casa Museu 18 de Janeiro de 1934 (Largo 18 de janeiro de 1934, no lugar de Casal Galego)
Descerramento da placa evocativa dos 80 anos do 18 de Janeiro de 1934

20h00 . Bar do Sport Operário Marinhense
Jantar Sopa do Vidreiro

21h45 . Sociedade de Beneficência e Recreio 1º de Janeiro (Ordem)
Concerto de “Brigada Vitor Jara”, “NÓ” e “Ne Pas de Probleme”

19 de janeiro . domingo . 10h30
Partida do Largo do Luzeirão (junto ao STIV)
Prova de Atletismo 18 km do Vidreiro

22 de janeiro . QUARTA . 10h00
Sede do STIV (Largo do Luzeirão)
Encontro nacional de ativistas “18 de Janeiro e as razões da luta”

23 de janeiro . QUINTA . 21h00
Sport Operário Marinhense
Conferência “18 de Janeiro de 1934: 80 anos depois”, promovida pelo Jornal da Marinha Grande

25 de janeiro . DOMINGO . 15h00
ASURPI – Associação Sindical União Reformados Pensionistas Idosos (Rua 18 de janeiro de 1934 – Marinha Grande)
Matiné dançante com atuação de Rui Oliveira e João Miguel

Organização: Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira
Apoio: Câmara Municipal da Marinha Grande e Junta de Freguesia da Marinha Grande

Também a Confraria da Sopa do Vidreiro assinala esta efeméride, através da organização das seguintes iniciativas:

18 de janeiro . SÁBADO
Comemoração do 18 de Janeiro de 1934 e 8º aniversário da Confraria da Sopa do Vidreiro
SIR 1º de Maio (Picassinos)
09h30 . Receção com "mata-bicho"
10h30 . Momento musical
11h00 . Atuação do Rancho Folclórico de Picassinos
11h30 . Sessão comemorativa, homenagem a Fernando Pedro (figura incontornável da cultura marinhense e membro da Confraria) e entrega do retrato à família do homenageado pintado por Guilherme Correia.
13h00 . Almoço e encerramento

Organização: Confraria da Sopa do Vidreiro e SIR 1º de Maio de Picassinos

A Revolta na Marinha Grande

A revolta do 18 de janeiro de 1934 surgiu como movimento nacional de contestação à ofensiva corporativa contra os sindicatos livres, por força do recém-publicado “Estatuto do Trabalho Nacional e Organização dos Sindicatos Nacionais”, em Setembro de 1933, pelo Estado Novo.

O movimento saiu para a rua e desenrolou-se, embora desarticulado. Contudo, a falta de apoio militar e a fraca adesão e repercussão nacional condenou-o ao fracasso.

Registaram-se greves gerais de caráter pacífico em Almada, Barreiro, Sines, Silves, e manifestações operárias, mais ou menos violentas na Marinha Grande, Seixal, Alfeite, Cacilhas e Setúbal.

Foram sabotadas estruturas de transportes, comunicações e de energia entre Coimbra e o Algarve, com destaque para Leiria, Martingança e Póvoa de Santa Iria. Registaram-se confrontos armados com forças policiais em Lisboa e Marinha Grande, onde o movimento atingiu grandes repercussões.

Quando, em finais de 1933, se iniciaram os preparativos da insurreição e Greve Geral nacional do dia 18 de Janeiro de 1934, o centro industrial vidreiro da Marinha Grande não ficou de fora.

Em articulação com as organizações sindicais nacionais, o movimento foi liderado por José Gregório, Teotónio Martins, Manuel Baridó, António Guerra, Pedro Amarante Mendes, Miguel Henrique e Manuel Esteves de Carvalho.

Entre a meia-noite e as duas da manhã do dia 18 de Janeiro de 1934, vários trabalhadores da Marinha Grande, na sua maioria vidreiros, reuniram-se em Casal Galego.

Estavam munidos de ferramentas para corte de árvores e vias de comunicação, de espingardas, revólveres, pistolas e bombas. Organizaram-se em brigadas e receberam instruções por parte dos dirigentes do movimento. Cortaram as estradas de acesso à Marinha Grande e a via-férrea.

Ocuparam a Estação dos Correios e Telégrafos e o Posto da GNR, com a consequente rendição e desarmamento dos soldados da Guarda Republicana e distribuição de armas pelos revoltosos.

Foram assim criadas condições para que se pudesse realizar a paralisação geral do trabalho na manhã do dia 18 de Janeiro. Porém, o movimento foi contido logo ao início da manhã. Os insurretos foram surpreendidos com a chegada à Marinha Grande das forças policiais vindas de Leiria. Seguiram-se o Regimento de Artilharia Ligeira 4 e do Regimento de Infantaria 7.

Os revoltosos ainda resistiram, mas, pela manhã, as autoridades tomaram a cidade, onde declararam o estado de sítio.

Mandaram encerrar as fábricas, iniciando as buscas e detenções daqueles que participaram no movimento, gorando o objetivo da paralisação geral do trabalho.

O número de detidos terá ascendido, a 131 pessoas. 45 revoltosos foram processados e condenados ao desterro pelo Tribunal Militar Especial, com penas entre 3 e 14 anos de prisão e ao pagamento de pesadas multas.

Nesta conjuntura iniciou-se um longo processo de luta contra o Estado Novo, contra a ditadura, a censura e o estado corporativo.

Reclamou-se o direito elementar à liberdade, do qual resultaram milhares de presos políticos, considerados de “especial perigosidade”. Alguns foram deportados para a ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde, nomeadamente para a Colónia Penal do Tarrafal, conhecida como o “campo da morte lenta”.

Os revolucionários do 18 de Janeiro foram derrotados num combate em que a heroicidade não bastava para vencer a enorme desigualdade de forças.